segunda-feira, 2 de junho de 2008

Eu amo o país que odeio...

Eu amo o país que odeio. Sou feliz, tenho tudo e não tenho nada do que quero. Seria injusto se pensasse que sou infeliz. Não tenho fome, não vivo na rua, durmo debaixo de um tecto, tenho família, amigos, sou amado. Tenho poder de escolha, que mais posso desejar?

Seria injusto querer mais do que tenho. No entanto, será demais pedir mais?
Porque é que neste país se dá cada vez mais importância ao dinheiro se não traz felicidade?

Com dinheiro pode-se comprar uma casa, mas não um lar, pode-se comprar uma cama, mas não o sono, pode-se comprar um relógio, mas não o tempo, com dinheiro pode-se comprar livros, mas não o conhecimento, pode-se comprar comida, mas não o apetite, pode-se comprar posição, mas não respeito, pode-se comprar sangue, mas não a vida, com dinheiro pode-se comprar remédios, mas não a saúde, pode-se comprar sexo, mas não o amor, pode-se comprar pessoas, mas não amigos. E então? Estarei assim tão errado?

Temos cada vez mais pessoas e menos condições. Em vez de se preocuparem com a saúde e o bem estar, são evidenciados assuntos ridículos e com menos importância.

Que fiz eu para dever ao estado 15 mil euros? Não recebem o suficiente?
Em Portugal existem aproximadamente 11 milhões de pessoas e todas devem esse dinheiro? Claro que o governo deve procurar soluções, mas porquê insistir em tirar no sítio errado?
Quando dão uma pequena ajuda tiram duas para compensar. Tanto dinheiro que os futebolistas ganham, porque é que não pagam impostos? Eu não recebo nem 1/4 e no entanto pago por tudo.

Se eu cometer um erro no trabalho corro o risco de ser despedido, se eu beber e depois conduzir corro o risco de ser preso, se eu fumar num local proibido corro o risco de pagar uma multa.
Há futebolistas que não marcam e equipas que não ganham, são despedidos? Não, renovam contracto. Há quem beba e conduza, é preso? Não, faz serviço comunitário. Há quem fume onde é proibido, é multado? Não, apenas pede desculpa e promete deixar de fumar.

Vivemos num país onde só o trabalhador (que é pobre e precisa de sustentar família) é lesado, onde só quem representa importantes cargos tem segundas oportunidades, onde só os que ganham mais recebem mais. Mas afinal de contas quem dará mais? Um pedreiro ou um funcionário público? Um médico ou um agricultor? Um empresário ou um simples empregado? Porquê tanta diferença se neste país apenas existem duas classes sociais? Tanta injustiça... e por eu querer mais do que o que tenho sou injusto, invejoso, egoísta, egocêntrico...??
Em apenas cinco minutos e tornei-me na pior pessoa deste país.

Amo-te tanto Portugal... mas mesmo assim odeio-te.