quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Diário de um cão...

Quem não gosta de chegar a casa e ter alguém feliz, todos os dias, por nos ver? Bastam apenas cinco minutos de ausência, mas é o suficiente, para os alegrar! Será que os animais não vivem constantemente com o medo de serem abandonados sempre que nos ausentamos? Daí essa sua reacção?! Talvez...


1ª semana – Hoje completei uma semana de vida. Que alegria ter chegado a este mundo!

1 mês – A minha mãe cuida muito bem de mim. É uma mãe exemplar!

2 meses – Hoje separaram-me da minha mamã. Ela estava muito irrequieta e com o seu olhar, disse-me adeus. Espero que a minha nova "família humana" cuide tão bem de mim como ela o fez.

4 meses – Cresci rápido; tudo me chama a atenção. Há várias crianças na casa e para mim são como "irmãozinhos". Somos muito brincalhões, eles puxam-me o rabo e eu mordo-os na brincadeira.

5 meses – Hoje deram-me um ralhete. A minha dona incomodou-se porque fiz "xixi" dentro de casa. Mas nunca me haviam ensinado onde deveria fazê-lo. Além de que, durmo no hall de entrada. Não deu para aguentar!!!

8 meses – Sou um cão feliz! Tenho o calor de um lar; sinto-me tão seguro, tão protegido... Acho que a minha família humana me ama e consente-me muitas coisas. O pátio é todinho para mim e, às vezes, excedo-me, cavando na terra como os meus antepassados, os lobos quando escondiam a comida. Nunca me educam! Deve ser correcto tudo o que faço.

12 meses – Hoje completo um ano. Sou um cão adulto. Os meus donos dizem que cresci mais do que eles esperavam. Que orgulho devem ter de mim!

13 meses – Hoje acorrentaram-me e fico quase sem poder movimentar-me até onde tem um raio de sol ou quando quero alguma sombra. Dizem que vão-me observar e que sou um ingrato. Não compreendo nada do que está a acontecer.

15 meses – Já nada é igual... moro na varanda. Sinto-me muito só. A minha família já não me quer! Às vezes esquecem-se que tenho fome e sede. Quando chove, não tenho tecto que me abrigue...

16 meses – Hoje desceram-me da varanda. Estou certo de que minha família me perdoou. Eu fiquei tão contente que pulava com gosto. O meu rabo parecia um ventilador. Além disso, vão levar-me a passear na companhia de todos! Nos direccionamos para a estrada e, de repente, pararam o automóvel. Abriram a porta e eu desci feliz, pensando que passaríamos nosso dia no campo.
Não compreendo porque fecharam a porta e se foram. "Ouçam, ESPEREM!" lati... esqueceram-se de mim... Corri atrás do carro com todas as minhas forças. A minha angústia crescia ao perceber que quase perdia o fôlego e eles não paravam. Haviam-me esquecido!

17 meses – Procurei em vão achar o caminho de volta ao lar. Estou e sinto-me perdido! No meu caminho existem pessoas de bom coração que me olham com tristeza e dão-me algum alimento. Eu agradeço-lhes com o meu olhar, do fundo da minha alma. Eu gostaria que me adoptassem: seria leal como ninguém! Mas apenas dizem: "pobre cãozinho, deve ter-se perdido".

18 meses – Um dia destes, passei perto de uma escola e vi muitas crianças e jovens como os meus "irmãozinhos". Aproximei-me e um grupo deles, rindo, atirou-me uma chuva de pedras para ver quem tinha melhor pontaria. Uma dessas pedras, feriu-me o olho e desde então, não enxergo nada com ele.

19 meses – Parece mentira. Quando estava bonito, tinham compaixão por mim. Já estou fraco; o meu aspecto mudou. Perdi o meu olho e as pessoas mostram-me a vassoura quando pretendo deitar-me numa pequena sombra.

20 meses – Quase não posso mover-me! Hoje, ao tentar atravessar a rua por onde passam os carros, um bateu-me! Eu estava no lugar seguro chamado "passeio", mas nunca esquecerei o olhar de satisfação do condutor, que até se vanglorizou por acertar-me. Oxalá me tivesse matado! Mas só me magoou nas costelas! A dor é terrível... As minhas patas traseiras não me obedecem e com dificuldade arrastei-me até a relva, na beira do caminho.
Faz dez dias que estou em baixo do sol, da chuva, do frio, sem comer. Já não posso mexer-me! A dor é insuportável... Sinto-me muito mal; fiquei num lugar húmido e parece que até o meu pêlo está a cair...
Algumas pessoas passam e nem me vêem; outras dizem: "não se cheguem perto". Já estou quase inconsciente, mas uma força estranha faz-me abrir os olhos.
A doçura da sua voz fez-me reagir. "Pobre cãozinho, olha como te deixaram", dizia... junto a ela estava um senhor de avental branco.

Começou a tocar-me e disse: "Sinto muito minha senhora, mas este cão já não tem remédio". "É melhor que pare de sofrer". A gentil dama, com lágrimas rolando pelo rosto, concordou. Como pude, mexi o meu rabo e olhei-a, agradecendo-lhe que me ajudasse a descansar.
Somente senti uma picada... e dormi para sempre, pensando porque é que tive que nascer, se ninguém me queria...

A SOLUÇÃO NÃO É ABANDONAR UM CÃO NA RUA, MAS SIM EDUCÁ-LO.